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domingo, 13 de janeiro de 2008

E o pedido de perdão ao povo Negro? "lugar onde o passado nunca morre"

Festa no cemitério resgata tradição de confederados. E o pedido de perdão ao povo Negro?

Na cidade de Santa Bárbara D’Oeste, no interior paulista, acontece uma festa intitulada Festa Confederada Brasil/Estados Unidos, que atrai milhares de pessoas. O motivo da festa é o resgate das tradições e da cultura dos imigrantes sulistas dos Estados Unidos. A festa acontece uma vez por ano, o curioso que é realizada no pátio do cemitério. Em seus 20 anos de realização já recebeu a visita de vários americanos, entre os quais o ex-presidente Jimmy Carter e a esposa Rosalyn, que tem um tio-avô enterrado no local. A história dessa celebração no cemitério está ligada às imigrações de famílias americanas do Sul dos Estados Unidos para o Brasil, a partir do ano de 1867, após o fim da Guerra da Secessão travada entre os Estados do Sul e Norte do país. Dessa imigração, de cerca de 9 mil pessoas, originou-se a comunidade de imigrantes sulistas.

A idéia de encontrar terras em abundância com mão-de-obra escrava certamente foi decisivo para que famílias inteiras, acostumadas a um estilo de vida escravista, se deslocassem do sul dos EUA para o sudeste brasileiro. A pós a derrota dos Confederados um grande número deles emigrou para o Brasil. Centenas de famílias, em São Paulo fixadas quase todas em Santa Bárbara d`Oeste e seus arredores, eram em sua maioria, presbiterianos, metodistas e batistas. Entre eles se encontravam vários pastores destas denominações. Estes missionários sulistas conservaram-se por muito tempo fieis à lembrança de sua causa nacional. Uma das missionárias com o nome de Charlotte Kemper, da Missão de Nashville, que se inspirava no exemplo de Stonewall Jackson, um dos heróis Confederados: “ele não se rendeu, Miss Charlotte também não se renderá...”. Um outro desses missionários sulistas se havia conservado tão firme em suas convicções que, quando em 1886, o pastor brasileiro Eduardo Carlos Pereira publicou um livreto em favor da abolição e condenando a escravidão, ele escreveu um verdadeiro tratado ant-abolicionista e escravagista.

Em 1845, os batistas norte-americanos separaram-se conforme o posicionamento contra a escravidão. Organizou-se a Convenção Batista do sul para abrigar as igrejas que admitiam o trabalho escravo, representando delegações de oito estados do sul escravista. Foi a Convenção Batista do Sul dos EUA que estabeleceu a Denominação Batista em solo brasileiro. Na colônia de Santa Bárbara D’Oeste encontravam-se muitas famílias batistas. No Brasil, os primeiros colonos batistas eram favoráveis e foram proprietários de escravos. Em Santa Bárbara D’Oeste, primeiro núcleo batista, o trabalho escravo existiu como mão-de-obra usada na agricultura e em tarefas domésticas. Os colonos batistas eram senhores de escravos, a exemplo da Senhora Ellis, dona de um sítio e que providenciara hospedagem nos primeiros meses ao casal de missionários W. Bagby, fundador da Primeira Igreja Batista do Brasil. Conforme o diário da Senhora Bagby, “depois de dormir uma noite na Capital Paulista, os missionários tomaram o trem para Santa Bárbara, onde chegaram sob forte aguaceiro. Na estação os aguardavam os enviados da Sra. Ellis, com dois cavalos e um escravo, para carregar a bagagem. A estrada até o sítio estava bem lamacenta mas ao chegar, foram carinhosamente recebidos.”

O fundamentalismo das denominações protestantes dos EUA se transformou em terreno fértil para justificativas da escravidão, que buscavam embasamento doutrinário para apaziguar a consciência dos escravocratas do sul. Citando a história de Noé, identificavam a maldição de Cam, por ter surpreendido o patriarca nu e embriagado, como a maldição dos negros. “Os Teólogos racistas acrescentaram que os negros descendem de Cam e, portanto estão condenados à servidão e à escravidão permanentes.

Com essas interpretações bíblicas que garantiam conforto dos corações e a “tranqüilidade de consciência” de seus fiéis escravocratas. Usando a bíblia eles cometeram esse grave crime contra ao Povo Negro. Durante quatro séculos, através do tráfico negreiro, esvaziaram a África de seus homens mais robustos, das mulheres mais sãs, das moças e crianças mais belas. Foram separados de suas famílias, para que apagassem da memória suas lembranças e sua identidade cultural. Estima-se que o tráfico custou a liberdade a trinta milhões de pessoas deportadas para as Américas, sem contar as que morreram no momento da captura, na triagem ou nos navios. Como mercadorias eram transportados em navios negreiros, que chegavam a levar 600 africanos amontoados nos porões, acorrentados uns aos outros em condições sub-humanas. Na parte superior dos navios, muitas vezes, se ouvia os hinos cantados nos cultos, muito deles em celebrações pela carga de cativos conquistada.

Chegando aqui foram explorados nas lavouras e nos engenhos de cana-de-açúcar e de café, e a qualquer manifestação de rebeldia eram amarrados ao tronco e sofriam todo tipo de tortura. Como reação a essa humilhação, aumentou o número de fugas, e a melhor forma de resistência foi a organização dos quilombos.

Voltando a festa que acontece em Santa bárbara organizada pela Fraternidade Descendência Americana, no cemitério, onde os descendentes realizam reuniões a cada trimestre para discutir assuntos relacionados à Fraternidade. “Esta festa é o momento da confraternização entre os descendentes dos imigrantes, que chegaram em nossa região por volta de 1867”, relata Noemia Alice Cullens Pyles, tesoureira da Fraternidade Descendência Americana.

Tudo isso nos faz lembrar do escritor William Falkner, que uma vez chamou seu Estado natal, o Mississipi, de o "lugar onde o passado nunca morre".Através de um plebiscito realizado no dia 17 de abril de 2001, a ampla maioria dos eleitores do Estado do Mississipi optou em manter sua bandeira de 107 anos de idade, que ostenta, em seu canto superior esquerdo, o símbolo utilizado pelos sulistas (confederados) na Guerra Civil norte-americana, a Guerra de Secessão, ocorrida entre 1861 e 1865, que deixou um saldo de 600 mil mortos. A cruz azul contendo 13 estrelas brancas é considerada uma referência ao passado racista dos Estados Unidos, já que os sulistas lutavam pela manutenção da mão-de-obra escrava, que sustentava a riqueza dos latifundiários agro-exportadores de tabaco e algodão. Hoje essa cruz azul é encontrada nos encontros da Fraternidade Descendência Americana em Santa Bárbara.

Algumas perguntas que precisam de respostas ou pelo menos alguma reflexão: nestes 20 anos de festas comemorativas os confederados de Santa Bárbara já pediram publicamente perdão ao Povo Negro pela escravidão e racismo praticado pelos seus antepassados? Os filhos dos confederados tem refletido esse passado de opressão e racismo contra o Povo Negro? A Fraternidade Descendência Americana nunca pensou que o uso da cruz azul contendo 13 estrelas brancas é considerada uma referência ao passado racista para o povo negro brasileiro? Os crentes sulistas de Santa bárbara ainda tem a escravidão do Povo Negro como instituída por Deus? Se não, porque não fizeram reparação do erro, com pedido de perdão, reconciliação, e com indenização?

Se estiveres para trazer a tua oferta ao altar e ali te lembrares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta ali diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; e depois virás apresentar a tua oferta. Mateus 5, 23-24

Hernani Francisco da Silva

Presidente da Sociedade Cultural Missões Quilombo
Coordenador do Fórum de Lideranças Negras Evangélicas
Membro do Movimento Negro Evangélico – MNE

Referencias biográfica:

O Protestantismo Brasileiro – Émile G. Léonarde – Editora Juerp e Aste

Sons of Confederate Veterans: www.scv.org/Camp1653/pindex.htm

Revista de Estudos da Religião - Nº 1 / 2003 / pp. 1-26 ISSN 1677-1222

Jornal Palavra – ano 9 Nº 116 2005 http://www.jornalpalavra.com.br/




6 comentários:

Carolina Sotero disse...

Estava no google procurando sobre herois, e encontrei sua historia nos "herois invisiveis".
Que presente para o meu espirito.
Saber de historias como a sua é inspirador.
Já me sinto militante nessa causa!
E ja penso no que eu posso ajudar nessa causa, que é de Deus.
Grande abraço.

Anônimo disse...

FIQUEI MUITO SURPRESA QUANDO VI A FOTO DA FESTA CONFEDERADA ILUSTRAR ESTA PÁGINA(AMO DE PAIXÃO ESTA FESTA),COM UM ASSUNTO QUE CONSIDERO UMA GRANDE PERDA DE TEMPO! AFINAL NÓS, DESTE TEMPO, NUNCA TIVEMOS ESCRAVOS, COMO PEDIRÍAMOS PERDÃO POR UM ERRO QUE NÃO COMETEMOS, SE PARA HAVER PERDÃO DEVE HAVER ARREPENDIMENTO, COMO PODEMOS NOS ARREPENDER DO QUE NÃO FIZEMOS. AGORA SE VAMOS COMEÇAR A PEDIR PERDÃO PELOS ERROS DOS NOSSOS ANTEPASSADOS "DEUS DO CÉU HAJA JOELHOS" BRANCOS, NEGROS E AMARELOS...
SOU DESCENDENTES DOS NORTE AMERICANOS CONFEDERADOS, MAS TAMBÉM DE NEGROS, COMO DE ALEMÃES E ITALIANOS, FRANCESES E INGLESES, PROFESSO A FÉ EVAGÉLICA, E APRENDI DESDE PEQUENININHA NA ESCOLA DOMINICAL QUE O IMPORTANTE É IMPORTANTE É PERDOAR, PEÇAM OU NÃO PERDÃO, SENÃO ESTAREMOS GUARDANDO NO PEITO UM CORAÇÃO RANCOROSO, PELO QUAL DEVEMOS NOS ARREPENDER E PEDIR PERDÃO A DEUS.

Izete disse...

Gostaria de lembrar o texto de Neemias capitulo 1 verso 6, em que ele confessa o pecado de seu povo e pede perdão pelos erros dos antepassados.
Entretanto lembro que quanto à origem dos Batistas Brasileiros há controvérsias pois o casal Bagby foi para a Bahia organizar a primeira igreja Batista do Brasil. Na organização um dos primeiros frequentadores foi um escravo que mais tarde foi comprado e alforriado pelos membros da igreja e aceito como membro.
Isso sempre me inspirou.
A igreja de Santa Bárbara era americana, seus cultos em inglês e não tinha o propósito de alcançar brasileiros com o evangelho.
Meu nome é Izete e tenho estudado esta história com paixão.

Unknown disse...

PARA MIM O IMPORTANTE E VIVER O PRESENTE E DEIXAR PARA TRAS O PASSADO.COMO DESCENDENTE DE JUDEUS EU PERDOEI OS ANTENPASSADOS DE MEU AVOS...SHALON ALEICHEN....

Unknown disse...

Como sempre acontece com esses assuntos, o autor do blog usa de meias-verdades e frases pinçadas fora do contexto para fundamentar seu raciocínio.
Sugiro uma leitura atenta do livro do Alcides Gussi sobre a comunidade doc confederados. Alí, o autor do blog descobrirá que autor do livro, que foi uma insuspeita obra para uma dissertação de mestrado na Unicamp, pesquisou todos os registros de cartórios de Santa Bárbara D'Oeste e descobriu que de 1868 até 1888, toda a comunidade confederada possuiu a soma total de 66 escravos, distribuída entre apenas 4 famílias, das quatrocentas que ali se estabeleceram ao longo dos vinte anos desde a imigração do primeiro grupo até a abolição. Lembro que o Brasil na época (1868) tinha uma população de 11.030.00 pessoas, das quais 1.690.000 eram escravos (ver http://historia_demografica.tripod.com/pop.pdf). Ora, 66 indivíduos são uma gota neste oceano de gente. Isso põe por terra o velho argumento que a imigração confederada ocorreu porque "queriam ter escravos no Brasil". Mas isso é assunto para outra dissertação de mestrado, ou mesmo de uma conferência. Conviria então ao autor do blog que recomendasse que todos os brasileiros quatrocentões pedissem desculpas, antes de exigir isso de quem não tem culpa nenhuma.

indignado disse...

essa é a maior prova do preconceito....os "defensores da causa" ficam trazendo a tona assuntos de mais de 100 anos atrás, nenhum descendente d ninguém tem que pedir perdão por nada já que falam tanto de perdão perdoem vocês.....aliás vocês desta causa são os maiores racistas do mundo, afinal vocês que estabelecem cotas raciais em provas e concursos, cotas querem dizer o que? que negros não podem competir com brancos de igual pra igual? somente podem competir negros com negros e brancos com brancos?? ao ver este blog no google não resisti em ler a matéria e achei no mínimo "rizível" falam tanto em perdão e não conseguem perdoar, falam tanto em igualdade e se mostram cada vez mais racistas.....Deus os abençoe

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